Acordo repentinamente do que percebo ser um sonho. Lá, participava como sujeito e como objecto, como interioridade e exterioridade de um universo. Eu sou a mente que sonha o sujeito e o seu objecto; o avatar e a natureza que o envolve. Será Deus a mente que faz o mesmo com o que chamamos realidade? Se sim, somos feitos à sua imagem, somos natureza sonhada e sonhante.
Tenho pensado muito na morte; ainda luto com ela, em vez de a abraçar. Aquilo que me perturba, em grande parte, é a possibilidade de saber que vou morrer (e.g. ao ser diagnosticado com uma doença terminal) mas que existe um longo e difícil caminho até lá. Esse foi o destino do meu pai; e poderá ser o meu. Esta possibilidade tem-me causado imensa ansiedade. Quem me dera ser uma pessoa mais simples, mais meu pai, que apesar do sofrimento e solidão nos seus momentos finais, era muito mais positivo do que eu. O meu grande desafio nos próximos tempos será sublimar este medo e ansiedade.
Surpreendentemente, não tenho medo do vazio, nem do momento final por si só; tenho, aliás, uma certa curiosidade por esse preciso momento em que o meu corpo cessará; o que acontece à minha consciência?
Até lá, tenho de arranjar uma nova forma de ser na vida e na morte. Forma tal que me permita aceitar com paz e tranquilidade o fim que se aproxima; e forma tal que não force um fim que não é suposto existir. Uma total aceitação do que fui até agora nesta vida; posso partir quando Deus quiser. Entre brechas, já vivi esse espírito de que falo. Momentos de iluminação, arrepios no meu corpo inteiro, eu e a natureza indissociáveis.
Deus sonha, e nós vivemos.
Deus acorda, e nós morremos.