sábado, 8 de junho de 2024

Narcisismo Colectivo

Aquelas almas vazias que vivem para alimentar a sua própria imagem.

Aquelas mentes anãs que insistem na separação dos seres humanos em categorias frívolas de etnia, género, cor de pele, entre outras.

Aqueles que, com pensamento afunilado, não percebem o que excluem ou quem excluem.

Aqueles que desgastam a cola social em nome de uma ideologia que em teoria se diz benigna.

Aquelas cuja razão e o diálogo não alcançam.

Todos estes devem ser ignorados e ultrapassados. Não há esperança para um doente mental que tem orgulho na sua doença, e que acha que dela todos deviam padecer. Tal como não há redenção para um parceiro abusivo, tóxico e narcisista, pois a sua identidade vive exclusivamente da sua doença: não pode ser curado senão por ele próprio.

A Maldade é a intensificação da separação.

Prece

Peço-te um desejo: que me deixes morrer.
Se fores piedoso, o meu corpo permanecerá
tão salutar como qualquer amanhecer.

Liberta-me - livre, faço bem o teu trabalho.
Destrói-me - revelerás, assim, o meu cerne.

Quero dar a este mundo aquilo que de mim precisa.
Se nada, então tira-me também o corpo.

quinta-feira, 6 de junho de 2024

Ciclo da Alma

Um grande calor a secar a miríade de poças que nos encerra.
Unidos nas nuvens, somos oceano no ar.
E chovemos enfim na terra, nós, Dilúvio.

sexta-feira, 24 de maio de 2024

Poema da Essência

Descasco esta cebola à luz das estrelas.
Resta depois de mil camadas me livrar,
um único ponto iluminado na noite,
um cosmos que expandiu no descamar.

Desapareci, e encontrei-me.

quarta-feira, 22 de maio de 2024

Abismo

Abro os olhos e desliza o mundo para o abismo. À minha volta, poucos são os olhos onde réstia de luz brilha: o abismo alastra-se, dentro de nós. Percebo, então, que é hora de desistir de tudo: de um caloroso amor, de uma mão amiga, de uma vida moderna, de uma casa com lareira, deste corpo. Aceito, com todo o meu ser, o grande sofrimento que nos vem abraçar. Aceito o Nada. E curiosamente, não me desfaço em Nada, não me deprimo, não me torno nesse Nada que bate à porta. 

Aceito o Nada e torno-me em alguma coisa, que ainda hei-de aqui descrever.