sábado, 10 de maio de 2025

Libertação

Exploro aqui o meu estado de espírito nestes últimos meses, caracterizado por uma inusitada ousadia face à vida e à morte; por um raro surto de atenção e força vital; e por uma reconciliação com a própria existência e, consequentemente, com o sofrimento humano. Sinto-me, mais do que nunca, a contradição em harmonia. Nunca aceitei melhor o que me é negado; e renuncio, de seguida, a negação com o maior entusiasmo e rasgado sorriso. Em paz no olho da tempestade, a minha força de viver é indistinguível de um desejo de morte.

Começa por uma frustração enorme com este mundo fluctuante e esta frágil existência moderna. O que será de mim e dos que amo...? E o grande amor a que achava ter direito? Não mereço eu ter uma casa, em algum sítio ou em alguém? Poderei eu sonhar com um filho nos braços? Contemplei a perda de tudo o que me é querido; bem como a concretização dos maiores medos e a destruição dos grandes desejos. Rendi-me a esta consciência que um mundo alienado sonha.

Que peso me levantou dos ombros esta rendição, e que sorriso! E que surpresa é lutar tão intensamente pelo que já aceitei não ter. Quero morrer a enfrentar o maior desafio deste mundo; estar a altura do que a história de mim pede; e carregar comigo o riso e a leveza

Sempre me perguntei o que significa ser livre. Só sei isto: a liberdade é a derradeira forma de vida e de morte -- e eu nasci para ser livre!

Bate agora o meu coração aos tambores da libertação!