quarta-feira, 22 de maio de 2024

Abismo

Abro os olhos e desliza o mundo para o abismo. À minha volta, poucos são os olhos onde réstia de luz brilha: o abismo alastra-se, dentro de nós. Percebo, então, que é hora de desistir de tudo: de um caloroso amor, de uma mão amiga, de uma vida moderna, de uma casa com lareira, deste corpo. Aceito, com todo o meu ser, o grande sofrimento que nos vem abraçar. Aceito o Nada. E curiosamente, não me desfaço em Nada, não me deprimo, não me torno nesse Nada que bate à porta. 

Aceito o Nada e torno-me em alguma coisa, que ainda hei-de aqui descrever.