quinta-feira, 3 de maio de 2018

Herói

Carrego, voluntáriamente, um peso às costas. É composto por metáforas. Neste mundo, onde tudo tem por base o recurso estilístico, a gravidade é uma força literária avassaladora - levar pesos às costas, sejam costas aquilo que forem, não é tarefa simples. Entre os que carrego, um deles é o homem que caminha para um destino sem nunca lá chegar; outro é o do homem que tem um ombro do tamanho do mundo, onde chove incessantemente; e outro é uma serpente que me abraça e que voa comigo.

Não é que carregue os pesos de ânimo leve. Mas sem o peso, uma pequena brisa leva-me pelo mundo fora, e perco-me em todas as metáforas sem me identificar com nenhuma; não há sistema metafórico a que possa chamar casa. O corpo não pesa no mundo dos recursos estilísticos, mas uma boa história é uma estrela massiva.

O herói Beethoviano é um halterofilista de pesos metafísicos.